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museu da água

em parceria com base urbana, escritório paulistano de arquitetura e ana paula pontes

memorial

numa ação cultural e de educação ambiental e patrimonial favorável ao uso responsável dos recursos hídricos e da expansão do saneamento, a sabesp decidiu instalar o museu da água na área da estação elevatória frança pinto, integrada no sistema cantareira de abastecimento de água de são paulo, interligada aos reservatórios nas cotas elevadas do espigão central na região do paraíso, e servida pelas adutoras da estação de tratamento do alto da boa vista.

o projeto para o museu da água estabeleceu como princípio fundamental a constituição de um novo território para abrigar as instalações existentes e as novas. convocando a imagem de um continente e seu conteúdo, físico, simbólico e processual este projeto abrigará o museu da água a partir da articulação de seus espaços existentes. a ideia é que o desenho de um elemento arquitetônico que define uma borda, um limite espacial, seja estruturante dos edifícios existentes e novos fazendo a articulação de diferentes escalas de influência deste território.

a primeira leitura nos leva a reconhecer este lugar como pertencente a uma constelação de equipamentos de cultura e lazer ligados ao parque do ibirapuera. as conexões programáticas e urbanas são fortalecidas na medida em que o projeto se articula aos elementos existentes do parque como a passarela ciccillo matarazzo e o museu de arte contemporânea. este gesto acontece no encontro dos níveis de acesso dos limites do terreno, oferecendo um eixo de conexão que atravessa o lote, constituindo a ideia de um só chão entre estes espaços de cultura.

outra escala de conexão é aquela ligada ao programa do museu. entendemos que o acervo edificado pela sabesp e seu contexto de implantação são também um patrimônio que pode ser aprendido como conteúdo educador dos valores intrínsecos ao tema da água no meio urbano. neste sentido este elemento arquitetônico, o anel, apresenta ao visitante a possibilidade de um percurso onde a relação com a paisagem técnica das bombas, tubulações, águas seja uma experiência lúdica. o projeto funde, em sua concepção arquitetônica e museológica, as preexistências e o acervo de documentos do patrimônio da sabesp num gesto de valorização do lugar e de reposicionamento simbólico dos edifícios na medida em que eles também são elementos expositivos.

as características edilícias destas preexistências foram incorporadas num percurso expositivo que valoriza as qualidades funcionais e patrimoniais. o abrigo das adutoras é hoje uma edificação não-tombada pelo patrimônio e foi incorporada integralmente ao anel museológico. como ação arquitetônica, conservaram-se partes inferiores da construção, imprescindíveis para a manutenção das funções operacionais, e sua envoltória com a cobertura são redesenhadas  de tal forma a se integrar completamente ao anel, permitindo ao público vivenciar o funcionamento deste setor da estação elevatória.

a casa de bombas é uma edificação tombada pelo patrimônio: sua conexão ao anel é fundamental para a ideia de integração do setor operacional no circuito museológico. as intervenções foram direcionadas para preservar as características arquitetônicas da edificação, especialmente sua volumetria. a interferência do anel na construção está restrita pontualmente à cobertura. nos pontos de contato, a viga do anel se mantém contínua e seu piso se estreita como uma passarela  de forma a conservar os elementos fundamentais do desenho volumétrico do telhado de cobertura da casa de bombas (cumeeiras e espigões do volume frontal do edifício). o anel mantém recuo de 4 metros com relação ao plano do frontão do acesso principal da edificação, voltado para a rua frança pinto.

o último edifício existente e mantido, é a antiga sede dos escritórios reformado para abrigar a loja e o café/restaurante. seguindo as diretrizes da ação arquitetônica sobre o patrimônio existente, serão conservadas suas características construtivas e volumétricas com pequenas alterações de aberturas para acesso e iluminação. a planta interna foi redesenhada para adequação das novas atividades e sua relação com o anel é livre, acima da cobertura e fora da sua projeção. neste ponto o anel funciona como uma marquise integrada as atividades que ocorrem internamente.

o projeto atribui valor aos edifícios existentes mais pelo seu caráter simbólico do que por suas caractterísticas arquitetônicas com o objetivo de não apenas mantê-los operacionais mas inserí-los, de forma plena, no cotidiano do novo espaço cultural e de lazer que se pretende promover.

neste universo de edifícios o anel tem, portanto, o papel de articular as volumetrias existentes e fazer a conexão com o chão e os novos usos através de escadas e elevadores. no res do chão nascem, três praças associadas aos edifícios existentes e suas cotas de implantação. uma praça mirante, associada a cota do mac, uma possibilidade de chegada de um ponto elevado do lote. uma praça das esculturas das águas, sobre as caixas d’água existentes que conecta aos edifícios das adutoras e das bombas. e por fim a praça do encontro, na cota da casa escritório o espaço livre, mais arborizado e gregário do acolhimento.

os novos espaços do museu se estruturam nas interfaces destas três praças num volume semienterrado que desfruta destas cotas das praças e que é envolvido por um sistema de rampas muito suave que conecta todas as diferentes cotas do lugar. este passeio circular acontece dentro do principal espaço expositivo, um cubo coberto por um teto iluminante de vidro com células fotovoltaicas que darão autonomia ao conjunto do museu. seu embasamento semienterrado dá acesso à biblioteca, ao auditório, aos escritórios e aos espaços de conservação completando o sistema de espaços externos.

o projeto tem carater conceitual não apenas pela articulação dos espaços relacionados com o lugar, mas porque está aberto às transformações conforme o acervo e as concepções museológicas que serão desenvolvidas pela sabesp.

nossa proposta radicaliza a ideia de que a arquitetura é capaz de ser o elemento articulador da paisagem existente. ao intervir no lugar com um elemento construtivo forte, simples, de geometria precisa, o anel, faz-se sobressair o valor deste patrimônio que pulsa a expressão de um  êxito técnico de natureza construtiva que é o domínio dos recursos naturais para a infraestrutura da cidade. os diversos níveis articulados pelo projeto, sejam eles territoriais, como as praças, ou simbólicos como o passeio pela sala das adutoras, demonstram que o projeto é a cuidadosa articulação da leitura do lugar com a intervenção do novo desenho.

local
são paulo-sp
área
5.300m²
equipe
catherine otondo, marina grinover, eduardo colonelli, marina colonelli, guilherme pianca, ana paula pontes, rafael andrade, priscila fernandes, camila moraes, juliana gilardino, giovani bartolini, rafael ribeiro.