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feira central de campina grande

projeto com base urbana

A proposta de requalificação da Feira Central de Campina Grande está fundamentada neste pêndulo de motivações: a possibilidade de espaços e tempos para o encontro, o reconhecimento, a celebração comunitária que identifica o cidadão campinense, cidadão nordestino, cidadão brasileiro e também, espaços e tempos para a vivacidade, a energia vibrante, os modos de fazer e ser dos negócios do mercado. Sendo assim, definimos duas estratégias que estruturam a ação projetual: reconhecer e potencializar os usos e espaços existentes – preservando a dimensão imaterial deste lugar; e aferir às necessárias novas construções um ato de clareza, de fácil legibilidade, de fácil exequibilidade – para que estes sirvam como justos suportes para a pulsante vida da feira.

A proposta busca equalizar espaços projetados para suportar as diferentes formas de negócio, tipos de mercadorias, negociantes e fregueses, salvaguardando as expressões dos modos de criar, conviver, as simbologias de um “bioma da identidade do povo campinense” e simultaneamente oferecer novos e flexíveis espaços para estimular o fortalecimento de tradições e saberes hereditários e outros ainda novos, inovadores diante de dinâmicas contemporâneas de comércio e afazeres de coisas e artes ligadas ao cotidiano urbano.

Dentre a diversidade de situações e dinâmicas de ocupação, o projeto procura reconhecer tanto as singularidades como as similaridades – a fim de encontrar as regras e exceções na composição da arquitetura deste conjunto.

O projeto encontra na implantação dos edifícios do Mercado Central o princípio constitutivo para a nova intervenção na quadra do Pau-do-Meio, Armazéns e Cassino: a articulação de volumes de mesma tipologia conformando em seus intervalos ‘ruas’ servidas de comércio. Assim, a intervenção procura definir um edifício-tipo que por suas características modulares abriga os negócios, suporta as novas construções, demarca fachadas a partir da métrica 3mx6m. Esta operação construtiva conforma eixos e perspectivas definidas, assim como define as bordas, os limites de quadra, além de aferir um ritmo visual e compassado, que ajuda o usuário da feira a apreender uma unidade em seu percurso entre edifícios, espaços e programas.

Em contraponto ao insistente ritmo desses edifícios-tipo que bordeiam o conjunto histórico do Mercado e penetram a quadra e lotes adjacentes, estão as exceções na requalificação. Dentro da ideia pendular de espaços ativos, vibrantes, celulares e dos espaços passivos, flexíveis, alargados, procuramos complementar a intervenção a partir do edifício-tipo, com estratégias singulares em cada um dos objetos do conjunto, a fim de recompor o imaginário das edificações em questão: o Largo do Pau-do-Meio deve voltar a ser lido como um alargamento entre o casario da cidade e o mercado; os armazéns devem manter suas características fundamentais como grandes espaços livres sob a forte presença de tesouras de madeira; o Cassino deve reconstruir um salão de uso coletivo para a cidade em seu edifício principal.

O projeto procura usar as técnicas construtivas e materiais presentes nos canteiros brasileiros em suas melhores funções: concreto para contenções de terra, lajes que recebem grande carga e também para faces da edificação diretamente expostas às intempéries; aço para volumes que necessitem que construção mais veloz, a fim de garantir o menor impacto nas dinâmicas dos feirantes e fregueses da feira; madeira pré-fabricada para grandes coberturas com baixa carga.

O Edifício-tipo cujo sistema construtivo pilar-viga-laje é aderente ao mais usual das construções de baixa altura no país, tem função portante nos quatro lugares de projeto. Ora suportando o encontro em desnível da rua com os espaços históricos do Mercado em edifícios de coroamento, ora suportando lajes e estruturas delicadas pré-existentes nos Armazéns e Cassino. As coberturas, opacas, translúcidas, de sombreamento ou estaqueamento estão, por sua vez, suportadas por delgado sistema de madeira engenheirada, moduladas a luz do edifício-tipo.

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Mercado

Em linhas gerais, o projeto para o Mercado objetiva a recuperação integral e total utilização das edificações originais; a reconstrução dos boxes do entorno na quadra a partir do edifício-tipo, de forma a delimitar e dar unidade aos limites do equipamento; a liberação das passagens para o fluxo de pessoas e mercadorias, bem como a clara definição dos eixos principais; a reconfiguração dos acessos e a provisão de nova cobertura com a demolição integral da existente. Dessa forma, as intervenções pontuais tratam de conferir ao Mercado melhor infraestrutura e aproveitamento do espaço edificado, bem como promover adequações às normas de segurança e acessibilidade.

O Mercado está organizado entre edificações antigas e novas, todas abrigando boxes de usos diversos, além das infraestruturas sanitárias e de câmara fria de carnes. Ao longo dos corredores configurados pelas edificações, propõe-se novas barracas leves, que podem servir como vitrines e estandes de produtos que requerem menos infraestrutura.

No centro do equipamento, configura-se um pátio cultural que recupera o vazio original, com arquibancadas que podem servir tanto para descanso, contemplação e consumo de alimentos, como também como suportes para exposição de produtos em eventos ocasionais, como artesanatos e cerâmicas. Ainda nesse espaço central, prevê-se um núcleo de apoio, com camarins de apoio à eventos e balcão de informação aos visitantes.

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Armazéns

Acolher e conectar são as principais funções da nova configuração dos armazéns. Situado em um contexto singular, com acesso a rua Pedro Álvares Cabral e a rua Manoel Pereira de Araújo o novo conjunto dos armazéns opera como um edifício de transposição entre quadras – ligando o Mercado central ao Cassino em um contexto mais abrigado e estruturado do que pelas ruas do entorno.

O novo conjunto se define pela manutenção de cinco das seis fachadas dos armazéns existentes, de forma a preservar a sua morfologia característica. Face à necessidade de espaços amplos que abriguem, com qualidade, os serviços de restaurantes e comércio, a intervenção prevê a demolição das paredes internas dos galpões e a manutenção das paredes de fachada.

Reforçando essa ligação entre ruas, é implantando um edifício-tipo, análogo às novas edificações do Mercado Central e Largo do Pau-do-Meio, em toda a profundidade do lote, reconstituindo a geometria dos Armazéns. Este edifício separa o lote em duas alas que realizam transposições claramente distintas: uma rua técnica que serve para abastecimento dos Armazéns e também para acessar o Mercado Central com cargas; e uma ala ampla organizada em torno de um grande pátio com árvores para abrigar os programas de caráter mais público e agir como dissipador de calor. Enquanto a rua técnica é aberta e sem cobertura, a maior ala recebe uma estrutura leve de madeira e telha – em homenagem ao imaginário típico dos armazéns – definidos pela presença de tesouras e coberturas em duas águas, contínuas.

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Cassino

O projeto busca manter ao máximo a construção existente do cassino e valorizar o caráter de uma ruína preservada dentro do novo conjunto. Além disso, o projeto procura recompor espaços constitutivos do antigo cassino sem recorrer a mera reprodução da construção anteriormente existente, e sim em novo arranjo que se adeque ao programa de necessidades indicado.
A proposta utiliza os dois volumes existentes para definir um bloco de recepção e acolhimento – associado ao edifício ligado à rua Manoel Pereira de Araújo – e um bloco cultural, concentrando as salas expositivas e salas multiuso, utilizando o antigo edifício central do cassino.

No térreo do bloco de acolhimento, instala-se a recepção e café, oferecendo ao visitante fácil acesso às informações e programações do equipamento, assim como serviço. O intervalo entre este bloco e o bloco cultural é mantido como o jardim que se formou incorporando os efeitos da existência anterior como ruína do cassino.

No bloco cultural, o edifício – tal qual o antigo volume central do cassino – se define em duas alas. Uma com pé-direito duplo e grande espacialidade e outra mais compacta e com programas de serviço. Desta forma, a exposição permanente é alocada neste salão de pé-direito duplo e os banheiros, elevadores e escada do conjunto ficam nesta ala de serviços.

 

 

local
campina grande-pb
área
19290 m²

equipe arquitetura
Catherine Otondo, Marina Mange Grinover, Guilherme Pianca, Rafael Alves de Andrade, Guilherme Sampaio, Julia O’Donnell, Juliana Amaral, Marina Bottini, Maria Beatriz Gallucci, Maria Isabel Magalhães, Samira Chamma
colaboradores
Gabriela Bertin, Lia Balassiano, Nina Galissi